sábado, 11 de novembro de 2017

Cílios espessos

Cílios espessos

Onde havia cílios espessos agora existe breu. A escuridão se aproximou sorrateiramente, primeiro uma brancura na íris se apresentou aos poucos. O oftalmologista não foi consultado. E, como, enchente, a brancura conquistou o globo ocular.

Glaucoma devastador. Eles disseram, sem trazer luz alguma para aquele fim de túnel. Irreversível. Da forma mais cruel, perdi minha visão. Da forma com que lidei com quem sou. O negro se fez através do branco absoluto nas minhas retinas. Pressão arterial nas alturas, o descontrole interno de um corpo.
E, por fora, a necessidade absurda de controle dos espaços vazios.

Agora não mais conduzo a mim. Sou conduzida. Até mesmo pelos espaços que não encostam em minha pele, na relação tátil que agora tenho com o que está fora. Agora sou alguém castrada de seus impulsos. Devo criar uma disciplina que suplanta o corpo de outrora. Devo abraçar um preparo psicológico que sustente o preparo físico de toda a extensão da minha pele. Conquistar um autocontrole em relação à luz que não mais se faz presente.

Sou um ser sensação, um ser pele, um ser couraça visual, um ser que viu algo grande demais e que agora somente lhe resta escutar e tocar o grande. Com olhos injetados enxergo o dentro que sou, com pêlos arrepiados enxergo o fora que é. Olhos sem rímel. Cílios finos e claros.

Sou forma e sensação agora. A imagem, a estética que não me conduz, mas me guia, vem de pequenos brilhos na noite que se instalou nos meus olhos. Sou tato e audição. Sou aquela que se enxerga agora.


Stella Arbizu, 11/11/17







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