terça-feira, 28 de março de 2017

Dois na pressão



Eu acho que eu posso comigo mesma.
Esqueço boas idéias.
Isso seria inenarrável, mas estou sem assunto.
Poderia falar da minha unha, que vem quebrando continuamente...
Certamente, você me diria que é falta de vitamina A. E eu falaria que os motoristas de ônibus dirigem perigosamente. Você me contaria que viu uma moça carregando o Código Penal, que não conseguiu se segurar numa curva e foi ao chão. E eu notando que você é observador e notou que era o Código Penal falaria que ela estava carregando o livro certo para enquadrar o motorista. Você riria de mim e eu notaria um certo brilho no olhar e que você levanta um pouco mais o canto esquerdo do lábio quando ri. Encantada, eu colocaria o indicador direito na boca, o da unha quebrada, para me certificar mais uma vez de que ela está quebrada. Um silêncio se estabeleceria entre nós, porque sou uma mulher escrevendo isso e sinceramente não sei o que se passa na cabeça de um homem numa situação dessas. Mas, Eros vem aqui e me sopra no ouvido uma gracinha e de repente você me diz que ainda bem que não tem ninguém segurando o Código Civil e eu com uma carinha de desavisada pergunto o porquê e você responde sorrindo que quer muito tomar um chope descompromissado comigo. Eu dou uma gargalhada aberta e você já sabe que pode pedir para o garçom dois na pressão.

domingo, 19 de março de 2017

Ela sabe

Ela sabe.
Sabe da opacidade.
Ela luta.
Luta ao lado de agentes duplos,
Que contam segredos
De um término constante
Numa certa manhã de domingo.


Ela luta.
Prefere o lado contrário do binóculo
Para divisar a trincheira inimiga
Enquanto o inimigo está ao seu lado,
Combatendo em cima do muro.


Ela talvez encontre
Sua paz, quando fronteiras se abrirem
E assim seus olhos
Enxergarem o jogo duplo
Do recruta ao seu lado
E de quem ela julga ser

Seu general.

Imagem de Elizabeth Levesque




terça-feira, 14 de março de 2017

Arco-íris

Eu vi o início de
Um arco-íris e
A manada de alces sem macho alfa

Removiam a terra
Em sua corrida selvagem
Nublando o arco-íris e aquela história já ida

A poeira assenta
A permanência do natural
E inequívoco estar

Esbarrando com o melhor pasto
A melhor senda
E o melhor criar



quinta-feira, 9 de março de 2017

Verdes


Só vou parar de te olhar
Quando teus verdes olhos madurarem
E me outorgarem a mais doce
Submissão.