quarta-feira, 10 de maio de 2017

Mais beleza ainda na obra de Sorrentino




Juventude, de 2015, é um filme de Paolo Sorrentino e contém a marca sensível recorrente em toda sua filmografia. Esta marca foi consagrada quando seu  A Grande Beleza foi premiado com o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2013.  Aqui é o meu lugar, de 2011, apresenta também a riqueza dos diálogos profundos entre os personagens.

O maestro aposentado Fred Bellinger (Michael Caine, Oscar de ator coadjuvante em 1987 e 2000) de férias em um hotel nos Alpes Suíços se relaciona com alguns dos hóspedes. Tais hóspedes são artistas e gênios no que fazem. O desenrolar da história se dá com as considerações dessas pessoas tão sensíveis, que têm a habilidade de filosofar sobre a velhice e a juventude, o prazer e a dor, o horror e o desejo.

Mick Boyle (Harvey Keitel, indicado ao Oscar de ator coadjuvante em  1991) é um diretor de cinema consagrado que divide o tempo passado no hotel entre o dolce far niente e a conclusão do roteiro de seu último filme, assessorado por sua jovem equipe de roteiristas. Ele considera este filme como seu legado definitivo como diretor de cinema. A relação entre ele e os roteiristas é um dos pontos de comparação que ele e seu amigo Fred fazem durante todo o filme. Eles criam uma parceria como compositores de uma partitura sobre o encanto da vida e da juventude. Tamanha beleza é pontuada pela fala de Mick: “– Você não percebe que estamos aproveitando o último idílio de nossas vidas?” para o mensageiro que interrompe o momento de admiração dos dois pela nudez da jovem e estonteante Miss Universo (Madalina Diana Ghenea).

Sorrentino, também roteirista, nos guia numa profunda reflexão acerca do passar dos anos, que justifica sua indicação para a Palma de Ouro de melhor direção no Festival de Cannes em 2015. Com a fotografia esplêndida de Luca Bigazzi - fotógrafo de seus filmes desde Aqui é o meu lugar-, que mostra a paisagem dos Alpes, ele coloca o espectador numa posição contemplativa, tão necessária ao processo criativo dos artistas de qualquer segmento.

A juventude e a velhice se contrapõem nos diálogos dos personagens com tanta sutileza que é necessário que o espectador compreenda a beleza com que os maduros vivem este tempo de ritmo mais lento, porém extremamente rico.  O filme declara amor à dialética de se ter maestria no que se faz, em um corpo com limitações. Sorrentino já havia abordado a questão da expertise quando o personagem principal de A Grande Beleza, o escritor Jep Gambardella (Toni Servillo), se via às voltas com os questionamentos de seus colegas ao fato de ter escrito somente um romance.

Rachel Weisz (vencedora do Oscar 2006 de melhor atriz coadjuvante) e Paul Dano (indicado para o Globo de Ouro 2014 de melhor ator coadjuvante), completam o elenco principal, do qual participam ainda Maradona, vivendo o papel de si mesmo, grande craque canhoto do futebol e Jane Fonda (Oscar de melhor atriz em 1980 e 1987) no papel da atriz favorita de Mick, Brenda Morel, que, de forma cruel, oferece o grande ponto de virada da trama.