segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Vou tentando


Papai Noel é um homem grande. É. Gordinho a gente sabe que é grande. Porém a minha ideia de escrita natalina não é sobre um grandão que me traga algo. É sobre um ser minúsculo que não me encontre. Nem aos meus, aos meus amigos, nem às minhas gravidinhas.
O que acontece é que não dá para pensar em uma festa de Natal tropical com o Aedes Aegypti ameaçando a felicidade dos casais que conheço. Não dá. E, corroborando com meu pensamento político, tudo se resolveria se o projeto de lei do então deputado federal Cristovam Buarque fosse votado por aquela corja (não entrou nem em pauta). Tal projeto de lei decretaria que todo filho e neto de parlamentar somente estudasse em escolas públicas. Educação para todos. Saúde. Saneamento básico. E pesquisa.
Me pergunto qual o percentual de bebês africanos nascidos com microcefalia, já que na África o Zika vírus tomba geral há décadas. Me pergunto também se os pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz já estão se informando sobre isso e se a mídia está segurando esta informação por algum motivo.
Pensar em ter que apertar as touquinhas de Papai Noel para cabecinhas de bebê é algo tão revoltante quanto esta pandemia que aterroriza a construção de uma família. Minha revolta estaria bem representada por uma golfada em um auxílio-paletó.  
Mantenho meu quintal limpo e minha bolsa está mais pesada devido ao repelente que levo a todos os lugares e ao sentimento de ultraje causado pelo descaso vivido durante todos esses séculos de desleixo do Brasil para com seu povo.
Tento desejar um Feliz Natal, falta uma quinzena. Vou tentando, vou tentando.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Uma leve gastrite



Tem uma toxicidade neste ar que respiro. Deve ser pela densidade vinda da

lentidão do passar das horas. Tudo que pego me repele. É um sentimento de que

sou bom o suficiente para aquilo e o fastio se estabelece. Maçada. Nada me

satisfaz.


Talvez fosse melhor sair à rua e tomar um ônibus errado, mas, qual lugar é

errado se não se quer pouso nem estrada? Talvez o ideal fosse ir até a pracinha

só para me transformar no chato aconchegado na ruga do saco rendido do velho

babão que tara nas ninfetas saídas da escola estadual de Ensino Médio que

desemboca vida em primeira instância. Morderia muito aquela pele flácida, em

homenagem a toda vitalidade desejada e em contraste à pasmaceira que

percorre a bacia hidrográfica da minha capilaridade sanguínea.



Vou à rua. Copacabana nunca é tediosa. Mas sei que o que sinto vai além do que

vem de fora. Sou melhor. Nada me interessa.


Sento-me em uma mesinha à beira-mar.


Um bom porre seria o ideal, porém, encontrar alguém com o mesmo objetivo

nesta tarde de terça-feira de abril requer algum esforço, já que não sou dado a

me embebedar sozinho.  Minha agenda de contatos é extensa. E o sol alcança

meus joelhos descobertos pela bermuda cargo me indicando a expedição que

nunca farei, nem qualquer um dos que estão na minha agenda fará; todos

encaixados, enquadrados, esperando uma vida mais ou menos se transformar

num surto de síndrome de pânico ou de depressão ou nesta crise de tédio

megalômana que vivo hoje e que vou afogar em uma dúzia de caipirinhas como

algum gringo deslumbrado e incauto. Sozinho mesmo. Sozinho e megalômano.


Na quinta caipirinha já me dou por vencido. O limão me entediou. Pode ser que

minha vida seja amarga e eu não saiba, pode ser que a ideia de uma caipi-fruta

não me venha à cabeça, já que não li o cardápio porque sou bom demais e as

ideias de diversificação são para quem transborda, não para quem estagna.


Pago a conta e me levanto, agora visivelmente contrariado comigo mesmo.

Deixo uma parca gorjeta para o garçom e sigo emputecido para casa. Toco o

interfone com impaciência, nunca cumprimento o porteiro. Pego o elevador,

casa. Fico nu. Um banho. Nada de comida e amanhã uma leve gastrite.