sábado, 25 de fevereiro de 2017

Primazia

Escolher o desejo é primazia
Da liberdade, na
Gangorra entre o ardor e
As convenções,
O horror das convenções
E a extinção da chama que ainda não se mitigou.


A frivolidade é irresistível,
É uma perversão.
Está em comentários espirituosos
E na morada do prazer,
Na sucção da satisfação,
No sorver da pressa
Em encharcar o cérebro das emoções potentes
E devastadoras
Emprestadas à boca de um estômago lascivo e ácido.


Deixo-me ir, deixo-me seguir
O rastro lânguido e úmido
Da entrega e de um tremor obrigatórios
A quem apenas deseja.

Imagem Laura makabresku




sábado, 11 de fevereiro de 2017

Para muitas



Vestido curto cores elas me alegram minhas filhas ilhas de um amor oceânico profundo é a direção do amor de mãe de duas cópias minhas certezas minhas virtudes meus defeitos devo ter feito tudo certo vermelho acima na escala dégradé me agrada grades não me prendam nem a elas Tarsila e Janine ninei muito com a intensidade de quem se esvai da cidade e deixa somente um rastro rasgo de olhar maroto de um olho já roto e que ainda se surpreende com a luz e as formas das sombras sobra querer bem boa esta ocasião de vestir curto e arejado já que faz calor perto de nós dentro e foragido de alguma refrescância na pele suada e sua um pouco nossa nessa vontade de expandir através delas e das gargalhadas que damos mulheres unidas que somos não espero crescerem somos já únicas unidas em espelhos perfeitos peitos abertos peitos de fora e peito mulher de peito

Ave Maria nave mãe me carrega nos momentos unânimes de encheção de saco sacudo a cabeça espalho ideias de dias melhores filhas que uma mãe podia ter terra seca época dura nave mãe me faz voar num voal balançante de vento nas ventas nas vendas de almas que tardam a planar para longe léguas sete sorrisos me guardam a porteira passa passa período de iodo que não limpa minhas filhas roupas rotas rotas perdidas ave maria orienta meu caminho moinho a triturar verdades e sonhos

Uma fica outra vai mundo moinho sonhos vazios vadios vadia de fúria atiro no alvo branco de quem fez tudo e mais um pouco dinheiro muito amor tecendo rede de alento lenta fusão com uma partida com outra destino tino teimoso de quem erra e conserta certa emoção de chuva a cair.


Tempo temporal de voltas retornos entorno de mim lágrimas de felicidade dos netos pequenos e eu a chorar a vinda da que foi afoita aflita e chega agora agonia não colo para todos e mais um pouco.


Imagem de Mariano Vargas



domingo, 5 de fevereiro de 2017

Evocações infantis


Vi uma gravura hoje que fez com que uma lembrança me assaltasse para me levar o tédio embora. Foi um tipo de assalto diferente, porque deixou uma sensação de prenhez, de completude.

A gravura está na web. E é uma gravura simples, como simples era a vida que voltou de 40 anos atrás. Me lembrei de um trabalhinho de jardim-de-infância. Era uma folha de papel azul-escuro e a tia entregava para cada aluninho um copinho com um pouquinho de água sanitária e um cotonete, acompanhados de recomendações carinhosas de não pode molhar o dedinho nem botar na boca, porque faz dodoi. Como a pedagogia já foi politicamente incorreta... água sanitária na mão de pré-escolares ou, vá lá, de recém-alfabetizados. Na minha mão direita aquele cotonete molhado ia iluminando caminhos no azul-noturno. Fazendo formas brancas com bordas marrons que surgiam no degradé da escassez do líquido no pincel-cotonete. Eu fazia pintas invertidas de dálmatas, estrelas óbvias naquele céu plano e fascínio em mim mesma pelos efeitos da química doméstica. Prazer. Arte. Felicidade.


Tenho agora um domingo pleno. Evocações infantis alteraram meu estado hoje. Agora vivo, não apenas existo.