Acorda. Corre para o banheiro. Abre o chuveiro se ensaboa
enxágua seca com a toalha. Corre para encontrar uma roupa. Veste. Calça. Corre
para a cozinha bebe o café do fundo da garrafa.
Acorda, esfrega os olhos, se espreguiça. Olha para o
relógio, levanta e abre a janela, o sol tá bonito, lindo dia. Não toma banho agora não. Sente o calor da
sua pele. Respira fundo. Vai para a cozinha, joga o café de ontem na pia, bota
a água para ferver. Observa a ebulição. Espera a transformação do pó, a extração
de sua essência, em bebida. Enche a caneca. Saboreia. Aproveita esse ritual
tranquilo. Refresca o ser. Liga para alguém para ir para a rua junto. Praia,
Lagoa, mato. Tudo nesta cidade caótica. Encontra o querer bem em você mesmo.
Acorda, abre os olhos. Olha, enxerga quem está ao seu lado e
ainda não acordou. Acompanha a respiração. Desce o olhar pela curva do pescoço,
escorre o olhar pelo tórax. Fixa onde o peito bate. Sorria. Encosta a mão.
Acaricia com a mais pura das intenções. Desperta o outro. Encontra os olhos.
Deixa a lágrima escorrer pelo seu rosto. Agradece ao universo. Aceita o beijo.
Chega mais perto. Recomeça a viagem das almas ao encontro. Suspira.
Acorda mais uma vez. Geme. Tenta se levantar da cama sem
ajuda. Geme. Corre com passos lentos para o banheiro. Não deu tempo. Cuidado
para não escorregar no molhado do chão. Volta para o quarto. Senta de novo.
Geme. Implora ao universo o fim deste caminho interminável. Passa a mão no lado
vazio da cama. Chora. Sufoca essa dor no peito que aumentou ao longo da
ausência. Escuta a porta se abrir. Sorria. Pede ajuda e aceita.