sábado, 17 de dezembro de 2016

O que você fez do que fizeram com você?



Muitos seguem a vida procurando a cura para suas dores, causadas pelas inquietudes ou por processos de perda que a existência neste plano material nos impõe. Quando se pensa em se falar o que vai dentro, tanta filosofia barata é lembrada para explicar a dor que ainda está lá, desde tempos antigos. É o caso de “o que você fez com o que fizeram com você?”.
            Esta máxima norteia o caminhar daquele que já encontrou a cura. Aquele que está desperto. Tudo o que foi feito de suas escolhas depende exclusivamente deste caminhante que teima em buscar o equilíbrio. Sim, a vida é dura, porém encontre-se como determinante da sua senda, sem culpar o outro pelas vicissitudes surgidas.
            O plano superior espera que nós, humanos, nos reencontremos com a própria partícula Eu Sou interna residente no macrocosmos que somos. E que a conexão se faça ainda nesta existência, porque nosso planeta urge em evoluir. Se cada ser humano compreender a magnitude da consciência de quem é, muito terá feito para alcançar os degraus iniciais desta trilha de ascensão a um existente melhor. O Eu Sou aguarda que realmente sejamos: mais conectados e mais solidários. Sim, porque a solidariedade fala da compreensão de que o outro não tem culpa no que você fez com o que fizeram com você. Conhecer sua estrada interna liberta e traz paz. E liberta o outro de um fardo que não lhe cabe.
            A busca do autoconhecimento é o ponto de partida para a escadaria da evolução. Tratar-se espiritualmente é o ponto seguinte, porque através do espírito vem a verdade. E a verdade exige que sejamos honestos e preocupados com o outro que seremos ao galgar um degrauzinho da escadaria. Ser cuidadoso consigo resulta em ser com o outro que divide a vida conosco, que está ao nosso lado, como amigo ou antagonista, para que possamos crescer.
            Buscar a verdade é a tarefa do guerreiro, é a proposta de quem procura se curar conscientemente. Servir ao outro é a batalha do caminhante. E encontrar a vitória reside na vontade e na fé do ser humano triunfante.




domingo, 11 de dezembro de 2016

Paladina



Eu conheço. Conheço uma pessoa que passou por todas as etapas da evolução das civilizações elétrica e eletrônica da humanidade. Sim. No quintal da casa dela, uma mansão no Flamengo, se enterravam pedras de gelo com serragem para tentar manter a temperatura baixa do gelado de goiaba ou de manga feitos nos verões de sua infância.
A gente consegue perceber a dimensão da vida dessa mulher que viu chegar à sua casa o primeiro refrigerador quando tinha seus catorze anos. Naquele momento, dançava valsa com seu avô (eram interrompidos com frequência para dar corda no gramofone), já treinando para seu début. E, agora, conhece tudo e o mais que cabe no hoje. Ao olharmos para ela, percebemos como ser é algo que se pode medir no interno, expansivo lugar que cabe no peito.
Fácil é encontrá-la, os familiares sempre dão boas notícias.
Não, eu não vou dizer que ela tem perfil no Facebook ou que escuta Charlestone no Spotify. Mas, ela ainda está viva.  Eu digo que ela manuseia o tablet para ver fotos dos bisnetos no colo dos netos. E vai passando o dedo na tela sem pressa. De vez em quando fala:
- Printa esta para mim. Vou colocar no meu toucador.
Ela é dona do Tempo, paladina de uma existência longa e real. Seus amigos já se foram, contemporâneo só o passado. Aliás, o presente também é seu contemporâneo. O futuro não, ela sabe que suas chances são reduzidas no caminhar para frente. Os joelhos não respondem mais a seus comandos, porque seus joanetes evidenciam a artrose do seu corpo. Quanto à alma, esta permanece jovem ao aceitar a perenidade da matéria.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

O som da magia



O som da magia não está apartado de mim. Meu ouvido absoluto vibra com as ondas emanadas daquele transformar. A magia canta o seu bem, meu bem; e desencanta o seu mal abissal. Ela lidera os maneirismos, as ferramentas e os chapéus de infinito. Protege enquanto eu ouço a implosão de arranha-céus e o tilintar das pinças daquele caranguejo que olha para a Lua.

A magia também é absoluta, meu bem, assim como fins de ciclo devem ser admitidos de forma cabal. Os vidros espelhados dos arranha-céus me convidam a mirar aquele vale ancestral em que colho estilhaços regados com chuva de estrelas. Escuto o som que emitem: crepitar dos tempos que querem nascer.


Hoje eu rebento em notas musicais. Canto naquela esquina em que não me encontras, a sinfonia interrompida de uma junção. Ouço a voz dos aplausos sincopados e toco a vida em frente. Algo me diz que meu instrumento não desafina mais.