segunda-feira, 24 de abril de 2017

Votos de amor

Tão grata, tão grata eu estava. E a gratidão me fez virar de ponta-cabeça naquele colchão no chão. E mirá-las. A mim só cabia agradecer ao escuro da noite, pouco depois da meia-noite, que é a hora de a chamarmos de bom-dia. A noite me iluminava através do fogo das estrelas que aqueciam minha pele e meu mais profundo vale de emoções. Eu não sabia o que poderia surgir após aquele momento, mas eu já tinha alcançado um estado de adoração que eu não rejeitaria nunca mais.


As estrelas me sussurraram que estava na hora de, novamente, roçar o tênue limite que nos separava, no seu, tênue limite também. Abracei suas pernas, a suplicar que seu corpo jamais descolasse do meu. E assim nossa combustão reacendeu, prometendo uma longa vida a dois. Não havia luz do luar naquela janela, nem reflexos do que quer que fosse, porque o brilho era nosso e competia com o incêndio de cada estrela.


Você me trouxe esta vida em que nos ligamos pelos laços prateados de nossos espíritos. E que ofertou sua beleza bivitelina e gentil ao aumento de nossa idade.

Este é o único motivo que me faz cantar estes votos e reafirmar que, após a maioridade de nossa união, te amo.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Um léxico divertido.



Tem umas coisas na nossa cultura carioca que são repetitivas. E tenho que ser repetitiva ao insistir nesse tema de malhar os anglicismos no carioquês. Ou no design de interiores. Ou pior, na moda culinária.

Fui dar uns bordejos por aí e acabei entrando numa loja de panelas ma-ra-vi-lho-sas. Caréééérrimas. Você sabe quais são. E elas não são produzidas só em laranja e vermelho, como são anunciadas. Também vêm em amarelo, preto, ocean, verde. Uma loucura. São pesadas como seu preço. Porém, já me programando para o dia das mães, comecei a garimpar qual seria o regalo da minha progenitora.
Achei uma linda bacia de louça preta. Mas, daquela louça que você sabe que não trinca, que não quebra, que vai à mesa e faz bonito pra galera do Maraca. Perguntei o preço, gostei do preço, desviei o assunto para as cores, para as espátulas de silicone e fiz a pergunta implicante:
- Como é que vocês chamam essa bacia? Eu acho tão enjoado falar bowl...
- Bowl...
- Podia ser cuia, né? Cuia é mais nosso, mais raiz, mais nacional.
Hahahaha. A cara do vendedor modernoso foi surpreendente. Ele levantou as sobrancelhas, como se fosse a primeira vez que tivesse ouvido a palavra cuia, como se fosse proibido falar cuia naquela loja, ou até mesmo naquele shopping, ops, centro comercial. Me diverti. E resolvi fazer a compra depois, no mês que vem, quando meu cartão de crédito virar.

Ao sair da loja, comecei a pensar que iria levar meus dois adolescentes para andar de skate na cuia do Pontal do Recreio.  Quando anunciei para eles, as gargalhadas foram muitas e cuia é nosso código de diversão garantida. No skate e no léxico.  E eles droparam na cuia, caíram na cuia, ralaram o cu na cuia, rimos muito.

Esse chato desse anglicismo já me fez dobrar de rir, como quando uma amiga me contou que seus colegas publicitários resolveram postponar uma reunião.  Ridículo ou pathetic? Ela me contou isso enquanto tomávamos umas caipirinhas e comíamos uma linguicinha calabresa. Carga pesada para o fígado. Os incautos ficariam enjoados, mas, enjoado mesmo, é falar bowl.

Agora, me diz: e se eu tivesse falado coité?