É de uma tristeza sem par que eu falo
O cheiro da terra e da poeira seca
Que o sol castigava para nos atingir
As árvores tortas e o mandacaru sem flor
Reflexos do que éramos
Retorcidos no estômago e inférteis na dor
Só a fé inabalável contra tudo seco ao redor
Padre Cícero, diretriz em pousar os pés no caminho e
Ter força para levantá-los a criar um novo passo
Olhos no ermo da vida sofrida
Contínua em sofrimento, escassa de água
De um açude limpo e uma sorte melhor
Na cidade enfim, construções erguidas
Com meu suor e a seiva de um veio vazio
Estrutura do corpo e da luta ferrenha
O urbano abocanha a esperança
Em ter um barraco, um teto, um pouso
Decentes em gozo de um descanso pleno
Anos e anos na crença da vitória
Que não chega e aparta o sofrer para o horizonte
Em que nada nasce, em que a dor se agiganta
Saudade do sertão, do mandacaru sem flor
Das cabras tangidas e mortas sob a luz
De um sol inclemente onde eu era senhor
Volto pra terra seca, longe da cachaça
Que destrói a mim e aos meus sem pudor
Volto pro sertão e para a falta de tudo
Lá minha alma se enche de cor
Distante do cinza que domina o sul
Sertão onde o mandacaru talvez dê flor
É lá que o sertanejo crê que a morte certeira
É benção de Deus e alívio de um pobre
Que olhou a vida com fé e algum destemor.