sábado, 23 de julho de 2016

Nostalgias



Nostalgias
que não me analgesiam
do teu existir.

Nostalgias
que não silenciam
o bombear árido
desta seiva quente.

Nostalgias
que negligenciam
um pensar barato,
um ponderar rasteiro,

de uma dama nua de verdades nossas.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Terror



Estou voltando do trabalho, são dez e meia da noite. Pedi para o motorista do ônibus me deixar mais perto de casa e ele não parou onde seria mais seguro para mim.  Dois homens dentro de um carro seguem meus passos. Pode ser que minha identidade feminina não seja aceita. Pode ser que eu seja estuprada. Estou gelada, aterrorizada com o que pode acontecer comigo. Talvez esta seja mais uma história de terror neste mundo.

Meu filho fez 18 anos. De presente, lhe dei um carro potente. A juventude pede essas coisas. Mas, ele pisou fundo nas curvas da Lagoa Rodrigo de Freitas, perdeu a direção e bateu numa das árvores que há anos recebem porradas de carros potentes. Ele está sendo operado neste momento, seu crânio quase esfacelou. É possível que ele morra. Estou gelada, aterrorizada com o que pode acontecer com ele. Talvez esta seja mais uma história de terror neste mundo.

Em Nice, França, milhares de pessoas comemoram o Dia da Queda da Bastilha, 14 de julho. Um caminhão muito bem pilotado por um único homem atropela de propósito centenas de pessoas. Ele desce da cabine e atira contra as que ainda estão em pé. 84 indivíduos morrem. É uma ação terrorista, reivindicada pelo Estado Islâmico. Pode ser que as diferenças entre os povos nunca sejam respeitadas. É possível que o terrorismo no mundo nunca acabe. É possível que ações terroristas sejam executadas durante as Olimpíadas no Rio de Janeiro. Estou gelada, aterrorizada com o que pode acontecer conosco. Talvez esta seja mais uma história de terror neste mundo.


sexta-feira, 15 de julho de 2016

Húmus


       O sol está entrando pelo buraco da fechadura. Eles podiam abrir uma fresta, para que eu recebesse seus raios.
       Estou cheia de mofo. À minha volta crescem cogumelos, minhas lágrimas são seu orvalho, liquidez de espera.
       São 37 dias aqui neste cativeiro. Conto todos os dias, estalando os dedos dos pés. Ninguém escuta o barulhinho, nem meus gritos de socorro.
       Os fungos que nascem na minha pele seguem as veias do meu corpo. Só o sangue corre para algum lugar. Do húmus vem a humildade. Não restou dignidade para parar de implorar.

       Agora é esperar que a próxima lua cheia me ilumine novamente.  A esperança quase se esvaiu pelo buraco da fechadura como um elefante que o atravessava: a próxima lua cheia vai me banhar completamente. Do lado de fora. É que eu dei um nozinho no rabo do elefante.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Atropelo

Inverno é o que acontece
Quando o Verão atropela
A Primavera
O Outono se assombra:
O flutuar das folhas
Se perdeu em brisas marinhas
E o mar fica caramelo
Esperando um Equinócio
Proibido pela translação
Há quem diga
Que a Terra gira mais rápido
Porém, eu sei
É que ela está parada.

(nenhum continente é litoral)​